"O terceiro mundo vai explodir. Quem tiver de sapato não sobra!", foi o grito que Rogério Sganzerla colocou na boca do seu personagem nano com charuto no filme O Bandido da Luz Vermelha. Inesquecível e profético: “A solução pro Brasil é o extermínio total, eu sou poeta, eu vejo, o terceiro mundo vai explodir, vai explodir!”.
Quarenta anos se passaram e o grito aflito do Brasil ainda é possante. O berro da miséria aflita ecoa no terceiro mundo: América Latina, Ásia, África, Oriente Médio, Europa do Leste... Mas por questões históricas o rugido do nano de Sganzerla se estende hoje sobre outros territórios, ultrapassando as fronteiras do subdesenvolvimento. A cada barca clandestina naufragada nas costas do primeiro mundo com dezenas de desesperados utópicos eu escuto o grito de Sganzerla. A cada imigrado humilhado e massacrado, aglomerados de homens-ratos nos bueiros internacionais, eu escuto o grito de Sganzerla. Dezenas de seres humanos que atravessam desertos e ultrapassam barreiras em busca do sonho americano. O urro profético da humanidade capitalizada outorga a governos neonazistas a solução para a luta de classes contemporânea. Prezado Sganzerla, ironicamente o seu grito assume hoje outra direção, que, na verdade, não é outra, mas a contra-mão da primeira: o primeiro mundo vai explodir! É isso que penso cada vez que caminho pelas ruas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário