sábado, 29 de abril de 2017

Navalha na carne

Ela descobriu a salvação na navalha. Quando a vida começou a pesar demais, os cortes em seu corpo se multiplicavam e a anestesiavam da dor maior: a da existência. Um corte na coxa, outro no seio, depois a panturrilha, o antebraço. Cada vez mais longos. Mais profundos. Aos poucos seu corpo virou um mapa a ser percorrido pelo olhar inquieto de quem não está em sua pele. Pele que ela tenta habitar.

Imagem: Sitzende mit gelben Tuch, Egon Schiele, 1910

Nenhum comentário: