quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Parti para o Festival de Veneza

Estou partindo para a Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza com alguns amigos do Centro Sperimentale di Cinematografia. Parto munida de uma credencial “Industry Professional” que dentre alguns privilégios, tais como acesso ao Industry Office e descontos em restaurantes, proporciona acesso prioritário a diversas exibições e eventos do festival...

... Será um esquema alternativo de hospedagem: ficaremos acampados em Lido mesmo, em um camping não muito longe do complexo de salas da Biennale d’Arte...

...O que estou indo buscar em Veneza em 2008? Um diálogo com Veneza-68, que foi um marco significativo na história do cinema italiano e é um tema de estudo que particularmente me atrai...

PARA LER O ARTIGO NA ÍNTEGRA ACESSE O SITE: http://www.cinequanon.art.br/.
FAREI UMA COBERTURA DO FESTIVAL PARA A CINEQUANON O QUE SIGNIFICA QUE NÃO ATUALIZAREI O BLOG NESTES DIAS.
PARA ACOMPANHAR A COBERTURA CLIQUE: http://www.cinequanon.art.br/
Um abraço!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Guimarães Rosa tinha razão


"Vaca no pasto é cachorro mastigando chiclete". Anahí Borges. Julho, 2008.

Vínhamos pelo Caminho de Santiago, deixando para trás o pequeno vilarejo rural, todo feito de pedras. A terra batida respondia ao excesso de sol levantando uma poeira densa feito farinha de rosca. Caminhávamos silenciosos quando encontramos a dita cuja. Uma senhora vaca, assim preta, assim grande, que espiava curiosa por entre as fendas do curral os peregrinos que passavam por ali. Os bezerros já estavam grandes o suficiente para estarem no canto por conta própria, a vaca queria mesmo é se socializar, mexer com aqueles que passavam ali a sua frente. Pecado que caminhavam apressados, não lhe davam atenção... os peregrinos do século vinte e um já são geneticamente motorizados. Nós paramos, e ali me lembrei de Guimarães Rosa.

Enquanto eu acariciava a cabeça da vaca percebi que ela parecia um cachorro... os cachorros que são assim, mexem a cabeça de um lado para o outro, para a frente, para trás, como se dissessem “Mais para cá”, “Agora mais para aqui”, “Isso, aí!”, orientando o trajeto das nossas mãos no gesto de afago e estampando na cara um prazer incontrolável. A vaca começou a me lamber: uma lambida de cachorro, alegre, afetuosa, histérica. Uma língua áspera que na ponta faz uma voltinha para fisgar o capim! Upa! A língua da vaca laçou o meu braço! Olé! E neste instante de comunhão ela me olhou, e dos seus olhos escorriam lágrimas em fluxo contínuo. “Felipe! Olha só aqui! A vaca está chorando!”. E Felipe, abandonando os bezerros que também estavam muito disponíveis para amizade, veio olhar a vaca que chorava. “Putz! É mesmo!”. E a vaca chorava, chorava, chorava...

Em “Sagarana”, de Guimarães Rosa, no conto “O Burrinho Pedrês”, um dos vaqueiros conta a história de um fazendeiro muito ruim chamado Madureira. Quando ele morreu, na noite do velório, os bovinos ficaram a noite inteira chamando no curral:

Os bois: “Ô Madureira, Madureira!”

As vacas respondiam: “Foi pros inferno, foi pros inferno!”

E assim repetiam durante toda a noite do velório. “Ô Madureira, Madureira!”, “Foi pros inferno, foi pros inferno!”

A vaca que conheci no Caminho de Santiago também se comunicava. Pela fenda do curral chamava amizades. E no íntimo de sua melancolia e abandono típicos da espécie, o ser se sentiu cachorro afagado, domesticado. Ser habitado. Chorou de emoção. E eu também chorei...

domingo, 10 de agosto de 2008

AVISO 2

CAROS,
DESCULPEM-ME, MAS ESTAREI SEM ACESSO à INTERNET ATé O DIA 24 DE AGOSTO...
UM ABRAçO!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Samba da Compostela

"Entre as flores de Cacabelos", Anahí Borges, julho de 2008.

*Compostela: é um certificado no qual consta que tu peregrinaste à Santiago por motivos de piedade e devoção. É outorgado na Oficina do Peregrino se tu reúnes as condições para recebê-la. Será uma lembrança da tua peregrinação e do compromisso adquirido com Deus de ajudar a construir seu Reino.

(Definição presente no panfleto de informações ao peregrino distribuído pela Oficina do Peregrino junto à Catedral de Santiago de Compostela)

Tantas são as vivências, reflexões e questionamentos do indivíduo que faz o Caminho de Santiago. Possivelmente em outro texto desenvolverei algumas questões plurais e contraditórias que encontrei no percurso. Por ora, resta o samba que fiz para ironizar a mercantilização explícita deste caminho secular. Lojas de peregrinos que vendem o bastão do peregrino, o chapéu do peregrino, a camiseta do peregrino; restaurantes oferecendo o menu do peregrino. Os albergues lotados, as trilhas lotadas. A galera dos 100 km (para pegar a “Compostela” é obrigatório percorrer o mínimo de 100 km). Enfim, eu escrevi esta letra enquanto a revolta batia no peito feito tambor de escola de samba, e cantava-a para recuperar o alto-astral ameaçado. Pois é... É o ecoturismo mascarado aí gente! Vamos lá, é a galera Compostelense na avenida!

Samba da Compostela*

Compostela
Eu acordo, caminho, durmo pensando nela
O sol nem raiou e eu já estou na janela
Espiando as pessoas se vêm caminhando
Seguindo os rabiscos da flecha amarela

Compostela
Eu levanto apressado e já saio marchando
Quero ser o primeiro do bando andando
Vou de braços abertos pra ti
Compostela

Compostela
Faço dez, faço vinte ou trinta quilômetros
Paro só quando sinto o ronco no estômago
Paro para comer o menu do peregrino

São dez contos
Presuntinho, salame, tortinha e batata
De segundo vem um filezinho na chapa
Tem ainda o vinho e a sobremesa

Compostela
Eu mastigo, eu engulo só pensando nela
Pago logo la cuenta e já saio fudido
Quero recuperar este tempo perdido

Vou correndo
Com o meu mochilão, oito quilos nas costas
Quero ultrapassar a multidão ansiosa
Que veio pro Caminho na última etapa

Só pra ter
O tal certificado de participação
Ter você, Compostela, de Santiagão
Isto aqui é um negócio: peregrinação

E ainda
Se já não bastasse todo este esforço
Eu caminho, eu rezo, eu rogo, eu torço
Encontrar uma vaga para descansar

No albergue
São três contos, caminha e banho quentinho
Dormir cedo de noite e sonhar com anjinho
Para depois acordar só pra ti
Compostela

Compostela
Eu caminho, caminho, só pensando nela
Toda a cara suada
E o pé já com bolha
Minha pele queimada
Este sol tá lascado

E se chove
Isto aqui vira um caos
Água, vento e lama
Mas tu sabes fiel que é fiel não reclama
Vou de braços abertos pra ti
Compostela