Quando ele encontrou seu pai
biológico foi um verdadeiro choque: dono de uma antiga relojoaria no Ipiranga,
é um homem robusto, já nos seus setenta anos, vulgar com seu charuto. De origem
russa, vive sobre uma cadeira de rodas após o acidente de carro. Não tinham
muito o que dizer um ao outro pois sequer conviveram nos seus 30 anos de vida.
Mauro soube que era adotado no dia do funeral de seu pai adotivo. Ele era
japonês e Mauro nunca soube perceber que semelhanças não haviam entre eles, mas
foi levando a vida tocando piano, e Bach, Beethoven, Satie e Mozzart o levavam
a outras percepções. A mãe, idosa, resolveu lhe contar sua origem. Mauro, até
hoje renega seus irmãos e mãe biológica, que o perseguiram pela vida inteira. É
sua opção, para ele tudo isso é mentira, blasfêmia, aquela verdade que tem um preço alto para ser real. Pão
ou pães é questão de opiniães, diria Riobaldo, de “O Grande Sertão: Veredas”.
*Imagem: Circle in a Circle, Kandinsky, 1923.
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