Na vida só tinha o nome de batismo, mais nada.
Maria de Lourdes, batizada em Glória e sob a
custódia da Santíssima Trindade. Mas a menina não tinha talento para o
cristianismo. Gostava de fazer maldades, tinha o hábito de maltratar animais.
Assim, depenou um pintinho recém-nascido, cortou com uma tesoura a barriga do
gato da vizinha, estourou a cabeça de um cachorro de rua com um paralelepípedo
e arremessava diariamente o jabuti da avó contra a parede do jardim, para ver
os caquinhos do casco se multiplicarem. Maria de Lourdes cresceu, a avó morreu
de morte morrida e a mãe de morte matada: envenenada pela filha que, em seguida,
deu-se um tiro no meio da cara. Seu nome continuou uma incógnita e um
contrassenso. Só restou sua lápide: Maria de Lourdes, sem assinatura, sem nada, na metade do caminho.
*Imagem: Vampire, Edvar Munch, 1893.
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