domingo, 5 de junho de 2016

A moça de trinta anos


Em uma manhã de inverno, uma moça de rosto pálido, sem marido nem filhos, vestiu um tailleur cheirando a naftalina e com a bolsa a tiracolo deu às costas ao seu apartamento incolor. Andou pela rua e entrou no edifício comercial em que trabalha. Subiu o elevador. No café do terraço, sentou-se na primeira mesa que encontrou livre. Lá embaixo a vida sussurrava, entre automóveis e passantes anônimos. Pela enorme janela era possível ver o cinza das nuvens que armavam o temporal por vir. Ela pediu o usual café com croissant e cumprimentou com um aceno uma colega na mesa ao lado. A moça pingou adoçante no café, mordeu o croissant, deixou o dinheiro sobre a mesa e foi ao terraço com um cigarro em mãos. A fumaça do seu Marlboro light era uma névoa dourada, que subia, subia, subia, subia. E a moça desceu: se jogou do vigésimo sétimo andar. 

*Imagem: Woman, Williem de Kooning, 1949.


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