domingo, 5 de junho de 2016

Redemoinho

O diabo solto no meio do redemoinho. Está uma reviravolta no meio da estrada. É pó, é terra, é o estilhaço do vidro do carro. Porque o diabo está nas entrelinhas. Eu me encontrei com ele quando voltava da casa da Dona Quitéria. Eu vinha dirigindo e vi esse homem parado, com chapéu, olhando-me com o olho do cão. Não deu tempo de frear. E agora meu carro está fraturado.
Meu carro é minha morada. Tem cobertor e até televisão. Decidi seguir pelo mundo quando morri por dentro. A travessia é um abismo: diazepam, bromazepam, clonazepam, aripiprazol, topiramato, cloridato de bupropiona e oxalato de escitalopram - todos no compartimento do automóvel para serem tomados com precisão. Cada hora, cada segundo, no ponteiro do relógio. Mas agora estou no meio fio recolhendo os comprimidos.
Preciso abandonar o carro. Hades me raptou para o mundo dos mortos com a promessa de eu virar rainha. Só que onde há partida há dor. Onde há imposição há negação. Não consigo surgir. Tiraram minha visão. Anestesiaram minha percepção. Esconderam os frascos de perfume.

*Imagem de Vitor Mizael


Nenhum comentário: