Ela era só uma mulher inconstante.
Mas para alguns era loucura. Ana Cláudia gostava de apanhar da vida. Pelo sim,
pelo não, o gostar virou vício e quando menos esperava lá estava ela raptada
por Hades, percorrendo o labirinto sombrio da própria existência. Alguns diziam
que era coisa da pomba-gira que emergia nebulosa: deveria fazer despacho para
sossegar; outros falavam que era genética: a mãe, hoje com Alzheimer, passou a metade
da vida internada em clínicas psiquiátricas com depressão psicótica - nunca
suportou a pressão do ser e a doença veio como solução para que não se ocupasse
mais de si. Ana Cláudia continuou. Carregava no olhar o mistério de quem
conhecia as entrelinhas do viver, sem, contudo, saber pontuar as frases que construía
de sua persona. Ana Cláudia. Era só uma mulher insolúvel. Morreu hoje de manhã,
atirando-se contra um ônibus, no meio da avenida.
* imagem: Crouching Woman with Green Kerchief, Egon Schiele, 1914.
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