"Caminho de Kiarostami com cachorro no Parco Appia Antica". Anahí Borges, Roma, 09.06.2008
Passei pela Via Camilla e as ameixas ainda estavam lá, penduradas nos galhos da árvore. Por quê será que ninguém sobe no pé para colhê-las? Havia algumas que bastava só esticar o braço para pegar. O mesmo com a mexerica poncán e as amoras. Por Roma existem espalhadas diversas árvores de frutas: ameixeiras nas calçadas, amoreiras nas praças, nos parques, mexeriqueiras nos canteiros do meio das avenidas. Fruto carnudo, suculento, parece doce. Dão às pencas e o peso faz os galhos caírem na altura dos olhos de quem está caminhando por ali. Adultos que vão para o trabalho, jovens para a faculdade, crianças para a escola, idosos que passeiam no final da tarde com o cachorro: as pessoas passam e as frutas permanecem lá, intactas, abandonadas, apodrecidas. Não sei se esta é uma conduta cultural - a fruta na rua é enfeite da cidade e comida de passarinho -, ou se é um gesto-síntese da vida moderno-urbana, categoricamente divorciada da natureza, e que, portanto poderia se manifestar em qualquer outra metrópole. Se assim o é, ousaria dizer que não sou uma pessoa urbana, ou melhor, que a minha urbanidade há necessidade-imperativa da natureza. Talvez por isso goste tanto dos filmes de Abbas Kiarostami, porque conjugam melancolia bucolista com manifestações modernas (de urbanidade precária) – cidade, asfalto, cinema, automóvel. “O Vento nos Levará”, “Através das Oliveiras”, “O Gosto da Cereja”, “A Vida Continua”... Quando ando pelos lugares, volta e meia encontro um caminho de Kiarostami e começo a imaginar as personagens de seus filmes percorrendo-o a pé, correndo, ou dentro do automóvel contemporâneo. Nos enquadramentos de Kiarostami: o encontro do homem com a natureza.
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