sexta-feira, 13 de junho de 2008

Um americano em Roma


É, sem dúvida, uma comédia italiana inesquecível. Dirigida por Steno em 1954, “Um Americano em Roma” conjuga comicidade e afiada sátira de costumes. No Pós-Segunda Guerra Mundial, a Itália renasce com o capital americano. A imagem da força, riqueza e liberdade dos norte-americanos que desembarcaram na Itália no final da guerra permanecerá por anos na mente dos italianos, definindo um novo desenho para os costumes do país. A cultura itálica se americaniza e Alberto Sordi interpreta no filme a personagem hilariante de Nando, um italiano-americanizado, que na impossibilidade de se mudar para os Estados Unidos contextualiza os seus hábitos importados em Roma. Roupas, músicas, gestos, baseball, comida, Nando vive como um ianque, como se estivesse dentro de um filme hollywoodiano.

Um americano em Roma. 68 anos depois...

O Bucha de canhão chegou! O Bucha de canhão chegou!

O presidente dos Estados Unidos chegou a Roma esta manhã, o que gerou um caos por toda a cidade. Trânsito, bloqueios, polícia - medidas de proteção necessárias para o chefe de Estado mais detestado do mundo. Buzinas e apitos pareciam ser as armas de um enorme cortejo de manifestação contra a sua presença, mas rapidamente revelaram ser a impaciência do trabalhador-romano-médio parado tanto tempo no trânsito. Contestação? Até que teve, mas singela, grupo pequeno, simbólico. O italiano-médio, há 68 anos americanizado, votou em Berlusconi na eleição de abril, e por isso o Bucha de Canhão está em Roma: para formalizar as alianças entre ambos os países. O Corriere della Sera de hoje comentou sobre a antiga amizade e alinhamento entre Bush e o Berlusca. E, sinceramente, o premier italiano nunca escondeu seu talento em ser um americano-médio.

Um Bush em Roma está negociando com Berlusconi a “questão nuclear do Irã” e a manutenção do seu Império. Durante seu encontro com alunos italianos bolsistas na American Academy, o presidente ianque disse sobre seu país e sua política: “infelizmente existem muitas representações caricaturadas, muita ignorância e propaganda”. E prosseguiu: “A verdade é que somos um país solidário e aberto, e temos no coração o destino das pessoas...” (Publicado no Corriere della Sera). Esta frase caberia perfeitamente na boca de Alberto Sordi interpretando o presidente dos Estados Unidos em uma comédia italiana clássica. Mas infelizmente o Bucha de Canhão não é ficção, embora tudo o resto o seja: Bin Laden, a luta ao terrorismo, as justificativas para a atual intervenção na América Latina contra as Farc, a razão de ser do Plano Colômbia, a utilidade da 4ª frota na América Latina do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, etc. Tudo ficção, falsidade, manipulação... Tragédia! Melodrama! Ação! Suspense! Terror! O Bucha de Canhão não tem mesmo talento para comédias. . .

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