segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

As lágrimas de Ermanno Olmi



Hoje assisti à obra-prima de Ermanno Olmi, vencedora da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1978, intitulada “L’albero degli zoccoli”(a árvore dos tamancos). É um filme surpreendentemente belo que reconstrói de modo contemplativo e minimalista a vida dos camponeses da Provincia di Bergamo (norte da Itália) no final do séc. XIX. Aspectos de uma Itália ainda feudal, onde as relações de trabalho são pautadas pela servidão ao senhor das terras, chegam ao espectador através do olhar poético-biográfico do cineasta que nasceu nesta região. Olmi se aproxima um pouco de Pasolini neste sentido, ambos são cineastas de origem campesina que buscaram, em muitas de suas obras, religarem-se às tradições ou valores simbólicos provenientes do campo tais como a pureza de caráter, a humanidade e a sacralidade como condição primordial de suas personagens, o respeito pela natureza e a ingenuidade e beleza no viver dos humildes. E claro, no papel de militantes de esquerda, ambos os cineastas são fortemente atrelados ao conceito de cinema político e suas obras exibem a intercepção do discurso estético com o de crítica às relações sociais baseadas nas relações de poder entre o patrão e o camponês/operário.

Em “L’albero degli zoccoli”, a preferência de Olmi pela verdade na representação utilizando como atores os próprios habitantes da região, assim como as locações do lugar, a sua luz natural, etc, é a força dramática da obra. O dialeto do filme, bergamasco, é um italiano difícil de compreender e o seu ritmo me fez recordar da fala do gaúcho brasileiro com leves pitadas de francês.

Neste texto não pretendo me aprofundar mais, prefiro dar a voz ao cineasta-autor que além do roteiro e direção também assinou a direção de fotografia e montagem. Abaixo transcrevi um trecho da entrevista de Ermanno Olmi presente nos extras do DVD, que no Brasil foi lançado pela Versátil (mas não sei se no dvd brasileiro tem este extra). Uma entrevista comovente, na qual o cineasta tinha os olhos cheios de lágrimas (optei por deixá-la na lìngua original porque a beleza também está nas suas palavras como são). O que Olmi diz merece ser registrado, divulgado, destacado como sentenças de um artista de significativo gabarito e de um amor inenarrável pela Memória. “L’albero degli zoccoli”, para finalizar, é um filme-manifesto de rememoração e legitimação da cultura campesina milenar e carrega consigo as suas belezas plásticas e humanas contrastantes, feitas de dor e de cor, de sangue e perfume.

Depoimento de Ermanno Olmi – “L’albero degli zoccoli”, extra do dvd, 2001.

“Io non sono mai stato un cineasta per il cinema, direi che amo molto la vita, come tutti, e quindi amo rappresentare quella vita che mi appartene di piu, quella realtà che piu ha influenzato la mia esistenza. Io sono figlio di quella terra. E quindi, è come fare un ritratto della madre. La madre la riconosciamo davvero quando ormai è perduta. Quando l’ abbiamo accanto, la madre è una realtà che ci spetta e quindi non ne siamo del tutto consapevoli. E quando ci viene a mancare, allora cerchiamo nella memoria di ricomporre il suo volto, sentire le voci, avere addirittura una sensazione palpabile del ricordo. E questo somilglia molto al cinema”.

“Proprio perchè quella realtà è cosi marcadamento speciale, particolare, i protagonisti dovevano essere veri contadini, così come vera è la realtà scenografica, le stalle, la campagna, la luce. Non è la luce di un teatro di posa, ma è la luce delle stagione, proprio del fluire del tempo con le sue scansione naturali. Tutto questo per me ha un valore prioritario, al di sopra del cinema stesso, quindi il cinema è soltanto quello strumento che utilizziamo per poter stabilire un rapporto col pubblico e quindi per poter riferire al nostro destinatario quello che piu ci sta a cuore”.

“Dopo Cannes, il successo del film, il mondo contadino si è sentito riconosciuto e ho avuto anch’io la sensazione che anche in quel mondo intellettuale che viveva, sopratutto quel mondo di estrazione accademica, mantendendo delle distanze, con questo mondo considerato addirittura da alcuni non sufficientemente degno di essere una cultura, li, secondo me, molti argini si sono rotti, e molte mente illuminate hanno capito che il mondo contadino era depositario di una cultura millenaria”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ué, cadê a tecla SAP?