Sabe-se que os italianos em geral gostam de comer bem e em grande quantidade. O romano é um caso especial - estende seu apetite até sobre o vocabulário, devorando as sílabas e palavras da própria gramática. Dessa forma, uma oração como “Che cosa sta facendo?”, se transforma subitamente em “Ch’ sta a fà?”, “Cosa sta dicendo” em “Ch’sta a dì” e “Andiamo a mangiare” em “annamo a magnà”. O dialeto romanesco é assim, faminto, devora tudo, vogais, verbos, objetos diretos e indiretos, substantivos, todas as palavras que Mussolini, durante seu regime fascista nos anos 30, impôs aos italianos como idioma oficial, autoritário, para unificar a nação e aniquilar as línguas regionais tradicionais.
Ora. Sono bravi questi romani! Mangiate ragazzi, subito, tutte le parole, finchè non ci sia più nessuna! Ricostruiamo l’idioma italiano! Ricreiamolo, dai, più libero! Fuori la destra autoritaria ed americanizzata! Fuori Berlusconi-Mussolini. Buon appetito a tutti quanti! – é como se de repente eu escutasse o eco da voz inesistente de Pasolini, assim, enérgica e apaixonada. Ele que em pleno fascismo publicou "Poesie a Casarsa", um livro de poesias em dialeto friuliano
(língua falada na região camponesa de Friuli), numa clara atitude em defesa da livre expressão e de resistência ao projeto mussoliniano de homogeneização da massa. È como se eu ouvisse o seu grito isolado atravessando o séc. vinte e um....
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