domingo, 6 de janeiro de 2008

Eu, paparazzi!


Atribui-se a Federico Fellini, um dos maiores cineastas italianos de toda a curta mas intensa história do cinema, a invenção do termo paparazzi para denominar os fotógrafos que perseguiam obcecadamente os artistas no tempo áureo do cinema italiano. Bem, Fellini já morreu e seus filmes permanecem, e além deles, claro, o termo paparazzi. Hoje dei uma de paparazzi e flagrei um casal de chineses que tirava fotos perto do Coliseu. Romântica a cena, para não dizer patética: ambos caminhavam ao redor do monumento vestidos com os respectivos trajes do casamento, um fotógrafo os enquadrava com a câmera – tendo sempre o Coliseu como fundo-, enquanto um diretor de cena dirigia a pose que deveriam fazer. Pois é, o limite entre sonho, ascensão social, cinema e realidade se misturou completamente na mente dos pombinhos enamorados e deu no que deu. Soube que essa é uma situação freqüente por aqui, muitos recém casados andam por Roma tirando fotos declaradamente montadas para depois se contemplarem no álbum de fotografia. Vejo dois diagnósticos. O primeiro deles é a cafonice própria da burguesia emergente, ou seja, a China é hoje uma das maiores economias mundiais e esse casal acredito que seja um exemplo da classe emergente do país, que em verdade não se difere das demais no mundo, vide no Brasil as personagens da revista Caras, por exemplo – um desejo de consumo exagerado e despropositado que existe nessa classe social que a impede de reconhecer-se como ridícula. Bem, como segundo diagnóstico no caso desses dois chineses existe o cinema italiano. Ele também responde por parte da culpa desse tipo de cena existir, visto que diversos cineastas romantizaram e imortalizaram nos seus filmes espaços, personagens e monumentos romanos: Rosselini, Vittorio de Sica, Fellini, Antonioni, Dino Risi, Monicelli, Pasolini, Ettore Scolla e tantos outros. Vir a Roma é certamente recordar-se das leituras históricas e da fé católica, mas é, antes de tudo, reviver cenas de filmes, sonhar com a câmera, sentir-se Vittorio Gasmann, Sofia Loren, Marcello Mastroiani, Anita Eckbert, é se tornar também personagem de ficção. Amanhã andarei com minha câmera de paparazzi pela Fontana di Trevi, quem sabe não encontro por lá mais uma dessas antológicas cenas cinematográficas made by China?

3 comentários:

Fábio Yamaji disse...

Gran piacere leggere vostro bloghi. Rittornaró molte volte.
Fotografe i cibi.

Bacci...

Yamaggio

Rai Jr. disse...

Grande Anahi, que gostoso ler teu blog. Vim para cá depois de ler texto teu para o Cinequanon e voltarei sempre que possível. Boa estada neste país e, por favor, continue a escrever suas experiências e reflexões. Isso é que fica///

Beijos beijos
Saudade do seu cabela tóin tóin

Anônimo disse...

Gosto demais desse teu olhar crítico para o velho mundo, identificando o que de novo existe nele, associando-o ao velho que existe em todo mundo novo, e o novo que continua velho em todo o mundo, e balizando com a câmera do cinema italiano, o bom e velho cinema italiano. E cosí la nave va. Me piace molto leggere il tuo blog.

Baccione.