Eu passeava pelo Parco dell’Appia Antica quando de repente no meio do meu caminho vi dezenas de ovelhas. Este parque é uma grande reserva arqueológica em que adultos que fazem esportes diários convivem com crianças que brincam nos playgrounds e animais que pastam no capim: vacas, cavalos, carneiros. É o parque mais heterogêneo e surpreendente de Roma, e nos finais de semana ensolarados as famílias se reúnem ali para um pic-nic, e os homens, para a partida de futebol. E naquele dia em que eu passeava distraída pelo gramado do parque me deparei com cento e quarenta ovelhas.
Bééééé... Começavam a trocar sinais entre elas. Bééééé... O que deveriam fazer? Eu é que pergunto. Será que continuo meu caminho, indiferente a tudo isso, e atravesso pelo meio do grupo ou é possível que alguma delas me ataque em legítima defesa? Bééééé... Claro que era uma aventura para mim, aquele amontoado de bola de lã impedindo a minha passagem e eu tendo que tomar fôlego para assoprá-los, com medo de que o vento acabasse por trazê-los de volta. Bééééé... Quando movi o primeiro passo levantaram as cabeças, acentuaram o grito e se aproximaram para me atacar. Bééééé... É agora! Pensei. Mas para a minha surpresa esses animais estavam, na verdade, abrindo alas para eu passar: ovelhas, carneiros e carneirinhos estavam todos trepidantes e agrupados abrindo uma pequena fresta no caminho para que eu os deixasse em paz.
Enquanto eu passava pelo meio das cento e quarenta ovelhas percebi que o som do seu balido é semelhante ao som do lamento de uma criança. Béééé... quase um choro. A ovelha é um animal amedrontado, geneticamente submisso. O processo histórico da espécie é marcado pela opressão e violência, e como conseqüência esses animais já têm incorporados em si o susto e a hesitação. O corpo que se movimenta em atinada fuga e o típico olhar com o rabo do olho é a expressão mecanizada do antigo alarme de sua espécie. Naquele momento senti pena das ovelhas e dos seus corpos carentes de qualquer elemento de defesa (chifre, crista, dentes afiados). Recordei-me da galinha do conto da Clarice Lispector, que depois de sua fuga corajosa e atrapalhada, e de se tornar a adorada rainha na casa daquela família, acaba tendo o fim tìpico de uma galinha, cuja espécie também é mecanicamente amedrontada: na panela.
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