domingo, 27 de janeiro de 2008

12 fotos para um pseudo-calendário romano


(Noturno. Anahí Borges, 16.01.2008)


(Menina sorrindo. Anahí Borges, 19.01.2008)


(Kubrickianas. Anahí Borges, 18.01.2008)


(Envelhecido. Anahí Borges, 15.01.2008)


(Treno al Circo Massimo. Anahí Borges, 17.01.2008)



(O pequeno chinês. Anahí Borges, 20.01.2008)


(Da minha janela. Anahí Borges, 18.01.2008)


(Subir ou descer?. Anahí Borges, 16.01.2008)


(Piazza del Popolo. Anahí Borges, 15.01.2008)


(Inverno na Villa Borghese. Anahí Borges, 17.01.2008)


(Romance. Anahí Borges, 18.01.2008)


(Somos burgueses e daí? Anahí Borges, 19.01.2008)

(PS - Para ver mais fotos clicar: Minha declaração de amor a Roma)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Meu encontro com Fernando Birri


Uma amiga brasileira está finalizando um curta-metragem que, para usar uma expressão italiana, è bello da morrire. Quando li o roteiro pela primeira vez, que aliàs foi um dos projetos contemplados pelo edital da prefeitura de São Paulo (o famoso PAC), lui mi ha colpito e enxerguei na proposta de Moara Passoni uma idéia original e revolucionária, um olhar investigativo porta-voz da minha geração perdida e nostálgica.

Em poucas linhas resumo o curta: um documentário que propõe o encontro entre dois personagens-símbolos da Resistência e da Esperança Latino-Americanas: Fernando Birri, cineasta e poeta argentino, foi um dos fundadores da escola de cinema de Cuba e é um dos grandes nomes do movimento do Novo Cinema Latino Americano dos anos 60. E Tilden Santiago, ex-padre operário ligado à teologia da Libertação, sempre atuou ao lado dos movimentos sociais brasileiros e foi nomeado embaixador do Brasil em Cuba durante o primeiro governo Lula. “O Sonho de Tilden” é um filme que reúne essas duas figuras históricas numa capela em Cuba e depois as leva à Praça do Vaticano, em Roma; um filme que fala de cinema, de política, de poesia, de fé, e não deixa de ser uma reflexão sobre a geração anos 60, e mais especificamente, sobre as trajetórias desses dois homens.

Em Roma encontrei-me com Fernando Birri a pedido de Moara, a minha amiga, que precisava de uma sua fala para finalizar o filme. Birri mora em Roma há alguns anos, e vez ou outra retorna para sua residência em Buenos Aires. Fui encontrá-lo. O dia estava chuvoso e fazia um frio de 5 graus. Devido ao caótico trânsito romano demorei duas horas e meia até chegar ao escritório de Birri, que me esperava ao lado de sua esposa Carmen e vestia um casaco peludo e uma touca de lã. Ao deparar-me com esta figura profética, mística, com seus 80 anos de idade, carregando nos ombros o peso da história e da vanguarda latino-americana fui acometida por uma emoção indescritível – a barba branca, o sorriso, a curvatura própria da velhice, o olhar afetuoso e finalmente as falas plenas de humanidade, sonho e poesia foram os aspectos desse artista que simplesmente me atravessaram a alma e me acompanham desde então: certamente nortearão minhas escolhas e orientarão a minha trajetória profissional e humana.

La registrazione audio era ormai finita, entretanto continuamos a conversar por um tempo. Disse a ele que eu vim a Roma estudar roteiro no Centro Sperimentale di Cinematografia, lugar este, aliás, que Birri também esteve, mas nos anos 60 – período em que diversos realizadores latino-americanos estudaram no Centro Sperimentale, como os brasileiros Paulo César Sarraceni e Gustavo Dahl. Birri foi aluno de Vittorio de Sica e também seu assistente de direção no filme “O Teto”, exibido na mostra de cinema neo-realista no CCBB de São Paulo em 2007. Falamos sobre muita coisa, desde a temperatura invernal de Buenos Aires até a hospitalidade do brasileiro, desde “Los Inundados" até “Natale in Crociera” (comédia tipo Globo Filmes que está em cartaz atualmente por aqui). Confrontamos nossas gerações, falamos de Zavattini, e tentamos entender as diferenças existentes no âmbito das perspectivas político-culturais dos alunos do Centro Sperimentale de hoje em dia em relação àquelas de sua época.

Meu encontro com Birri terminou num longo abraço em que ele me disse que eu sou a esperança do cinema latino americano. Naquele momento não fui apreendida por sentimentos de orgulho ou vaidade, entendi a frase como um encorajamento próprio dos guerreiros. Birri a disse a mim, como diria a qualquer outro jovem latino-americano estudante de cinema, um seu desejo, que é também esperança, aquilo que não posso, ou não deveria esquecer: que tenho responsabilidade com o meu cinema de origem. Isso veio como um golpe de injeção de ânimo num momento em que eu vivenciava o "sentimento do exílio” de que nos fala Edward Said, o conflito inerente a quem está imerso na cultura estrangeira e ainda tentando se adaptar a ela. Meu encontro com Birri reforçou minha latinidade, minha identidade. Com esse sentimento de integridade compareci a esta primeira semana de aula no Centro Sperimentale di Cinematografia.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Um tipo europeu

Hoje à noite vi um rapaz que andava pela rua puxando o carrinho de feira à procura de algo para comer nos cestos de lixo. Certamente para levar pra casa e oferecer também aos seus familiares. Era muito bem vestido e perfumado e quando encontrava algo que valia a pena, o rapaz tirava do bolso um pano e limpava o alimento, envolvendo-o em seguida em papel toalha e colocando-o dentro do carrinho. Esse estilo europeu de miséria me fez lembrar do filme de Agnés Varda: “Os Respigadores e a Respigadora”, documentário no qual a diretora humaniza e dignifica a ação daqueles que pegam os restos deixados pela sociedade, desde comidas até objetos. No film, um ex-professor universitàrio também sobrevive de restos. Sào respigadores pós-modernos estes seres humanos urbanos abandonados.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A social democracia na hora do pranzo


Meu sangue baiano falou alto enquanto preparava minhas malas para vir à Itália. Trouxe comigo alguns temperos que usamos bastante no Brasil: cominho, curry, pimenta do reino, coentro, colorau e açafrão. Além disso, trouxe também feijão preto e castanha de caju. Tudo com o intuito de apresentar um pouco da nossa comida por aqui, e claro, garantir que a teria por perto caso a saudade apertasse.

Certa vez viajei pra Salvador com minha mãe. Na volta pra São Paulo, uma experiência inesquecível: ela trouxe no avião feijão fradinho, tapioca, farinha, cocada, biju e até acarajé frito .Para provocá-la eu dizia no avião: “Ôh mainha, cadê a tapioca? O biju num vai quebrá lá em cima não hein? E a farinha, o saco num rasga?”. Pois foi dela que herdei o sangue baiano.

Ontem resolvi preparar uma macarronada com berinjela e molho de tomate. Simples, a princípio, se não fossem os temperos. Um pouco de curry, coentro e pimenta do reino fizeram a diferença para a italianada em casa. Simplesmente adoraram, para a minha surpresa. E gostaram tanto que fiquei encarregada de preparar a mesma macarronada no próximo sábado: um jantar de aniversário de um amigo com 30 convidados! Mamma Mia!

No quesito comida os italianos geralmente são metódicos. Segue-se o ritual do primeiro prato (uma massa, por exemplo), depois o segundo (uma carne), o contorno (salada) e depois a sobremesa, sendo que vez ou outra a refeição pode vir inaugurada por um antepasto - berinjelas, queijos e pão. A hora de almoço dura aproximadamente 3 horas: diariamente o comércio fecha as portas às 13h e reabre às 16h – a tradição familiar ainda fala alto e as pessoas voltam para suas casas para almoçar em família. Neste contexto todo, iniciativas de restaurantes que oferecem pratos exóticos, culinárias indianas, japonesas, tailandesas não funcionam. Os únicos que conseguiram espaço foram os chineses, e os pratos que mais saem nestes restaurantes são aqueles que contém macarrão ou risoto, ou seja, que não se distanciam muito do paladar italiano. E mesmo assim a clientela divide o cardápio ao seu bel prazer e pede como antepasto um bolinho primavera, o primeiro prato é quase sempre um yakisoba,o segundo, frango ao molho agridoce, uma saladinha como contorno e frutas de sobremesa.

É como se o mercado culinário por aqui fosse norteado pela idéia de abertura lenta e gradual. Piano, piano o investidor estrangeiro modifica os sabores dos pratos até conseguir mudar os hábitos dos residentes. Na verdade, costuma ser assim em países com tradições históricas bem marcadas. Aspas: li na Folha de São Paulo há alguns meses que uma empresa italiana de café, a qual não me lembro o nome agora, está investindo no mercado indiano que justamente não tem a tradição do café, e sim, do chá. O projeto da empresa é a médio prazo mudar os hábitos alimentares indianos. O café está sendo inserido no país ainda associado ao leite para tirar um pouco de seu amargor até que daqui a alguns anos possa ser comercializado normalmente. A empresa acredita que em 40, 50 anos a Índia será uma grande consumidora de café. Fechar aspas.

O mercado culinário italiano, entretanto, permanece resistente às tentativas de grandes transformações. Evidentemente existem os hambúrgueres da vida e os kebabs árabes, mas a tradição da massa e da hierarquia dos pratos ainda tem força. Aos poucos e lentamente as coisas mudam: um shoyuzinho daqui, um coentrozinho de lá, um açafrãozinho acolá e piano, piano a culinária imigrante consegue sair da exclusão. A minha macarronada é um exemplo de inserção dentro dessa estrutura de poder rígida não é? Uma típica inserção de centro-sinistra, pelas bordas e através de reformas, mah va bene...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Traduttore: traditore?

Existem expressões dentro de uma língua que quando traduzidas para o nosso idioma identificamos nelas o seu caráter poético. Assim aconteceu comigo quando a Silvia, a moça com quem moro, me perguntou se o que eu havia feito no meu cabelo foram “colpi di sole” (golpes de sol). Ela se referia às minhas luzes douradas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O "clacson" de Vittorio Gassman


Curiosamente não existe em italiano uma palavra equivalente à buzina. O que existe é uma palavra hóspede americana, assim a gramática a define, chamada clacson. A primeira marca de buzina americana fabricada pela empresa Klacson no início do séc. XX acabou se tornando o nome do próprio objeto.
Dino Risi, cineasta italiano de comédias de costumes ao lado de Mario Monicelli, em meados dos anos sessenta quando realizou seu filme “Il Sorpasso”, que embora signifique “A ultrapassagem” foi traduzido no Brasil como “Aquele que sabe viver” (e jà existe em DVD) queria fazer uma crítica à classe média consumista italiana que naquele momento de crescimento econômico entupiu Roma de veículos. A ordem do dia era comprar um carro substituindo assim as corriqueiras bicicletas. Vittorio Gassman interpreta o protagonista Bruno, um homem “motorizado”, aventureiro e desocupado, que gosta de levar uma vida boa sem esforço algum e quando pode engana as pessoas para tirar proveito das situaçòes. O carro de Bruno possui uma buzina excêntrica, com distorçòes sonoras, a qual faz sonar o tempo todo. “Il Sorpasso” teve um enorme sucesso de bilheteria na Itália e na época muitos romanos instalaram em seus carros o som da buzina de Vittorio Gassman.
Entretanto naquela ocasião a prefeitura proibiu esse tipo de clacson porque estava gerando um caos no trânsito, visto que seu som era muito semelhante com a sirene da ambulância. E de fato, aqui pude conferir que quarenta anos se passaram e os sons permanecem idênticos. Sempre que uma ambulância passa pela rua me lembro de Vittorio Gassman.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O céu de Suely


Hoje me emocionei com minha brasilidade. A busca por algo que reverbere em nós e que possa nos espelhar a nossa própria identidade faz parte do momento de adaptação à cultura estrangeira. Essa adequação é sempre um desafio, ainda que , no meu caso, de fato reconheça a existência de grandes semelhanças culturais entre Brasil e Itália (isto fundamentalmente devido à imigração italiana no Brasil. Só em São Paulo hoje existem 5 milhões de italianos e descendentes). Herdamos deles desde a culinária até os movimentos sindicalistas do operariado em meados do séc. XX. E aqui na Itália diz-se que quem descobriu a América não foi Cristóvão Colombo, mas Américo Vespúcio, um navegador italiano que chegou ao Brasil enquanto Colombo estava nas Índias. E por isso o nome de América ao Novo Continente. Havia lido algo semelhante em enciclopédias brasileiras mas que pontuavam que este tal Américo estava na mesma frota de Colombo, ou seja, descobriram a América juntos. Mas enfim, os brancos que se entendam. Eu agora vou falar de Brasil.

Trouxe comigo 20 DVD’s de filmes brasileiros: um verdadeiro contrabando de clássicos e contemporâneos. Fiz isso motivada pelo fato de que por aqui só se conhece, dentro do cinema da Retomada, “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”. Então cheguei a Roma armada do que para mim o cinema nacional tem de mais belo, instigante e original, disposta a ir à luta e apresentar o nosso cinema à terra antiga de tantas vanguardas.

Gláuber Rocha, Sganzerla, Arnaldo Jabor, Domingos de Oliveira, Person, para representarem alguns de nossos combatentes da velha guarda, e Beto Brant, Karim Aïnouz, Marcelo Gomes, Lais Bodansky, Cao Hamburger, Luiz Fernando de Carvalho (com “Lavoura Arcaica”) entre outros para exemplificar através de excelentes novos artistas um quadro de produção bastante plural.

O que se sabe do Brasil e de Brasil por aqui? Muito pouco, o de sempre, o estereótipo cultural do samba, do futebol e da novela “A Escrava Isaura”. Ponto final. Na noite de domingo exibi a um grupo de amigos cinéfilos “Madame Satã”, primeiro longa-metragem de Karim Aïnouz. Um filme belíssimo, interpretado com primazia por Lázaro Ramos, sobre a vida desse lendário personagem da boemia carioca, na Lapa dos anos 30. A responsabilidade era imensa: eu precisava escolher dentre os 20 filmes aquele que mostraria primeiro, como se dissesse – “Caros, apresento-lhes o cinema do meu país! Boa sessão!”. E a insegurança de eu ter feito a escolha errada? Deles não gostarem do filme? O problema já começou na legenda: os italianos só assistem a filmes dublados (plausível sob a ótica da defesa da identidade nacional e até porque a dublagem na Itália é fenomenal) ou então com legenda em italiano. Mesmo sabendo outras línguas como inglês, espanhol, francês, eles não gostam muito de legendas estrangeiras. Enfim, optou-se por inglês. Assistindo ao filme me constrangi em diversas cenas, me emocionei em outras, a fotografia sombria, a sensualidade dos corpos, a violência feita de exclusão, a beleza dos contrastes e do movimento instável da câmera, o tom vermelho e o ritmo do samba, borrões imagéticos e a extraordinária verdade que Lázaro Ramos imprime a sua personagem foram alguns dos elementos que me possibilitaram enxergar, de fato e de fora, o cinema nacional com toda a sua cor, calor, contraste, voluptuosidade e brutalidade. Após a sessão silêncio total. “Mah, che bellissimo questo film, Mamma Mia!”, “E guardi, questo attore è magnifico!”. Ufa! Pensei. Que bom que gostaram e que a experiência serviu, antes de tudo, para lhes revelar um país.

Um tempo depois alguém me perguntou se eu sentia falta do Brasil. Respondi que sim, que sentia uma saudade um pouco abstrata, ainda anônima.

Hoje testei o DVD do filme “O Céu de Suely”, também de Karim Aïnouz, para exibi-lo num próximo encontro. Um filme que para mim sempre foi esplêndido por sua nostalgia, beleza plástica, minimalismo nos gestos, tom contemplativo e respiros dramáticos, mas que agora simplesmente passei a gostar mais, e mais, e mais. Incrível, só a cartela do menu contendo a música tema e a cena em que Hermila procura o brinco na estrada e em seguida sobe na moto de João já foi suficiente para me emocionar. Tanto, e tão profundamente que consegui nomear a minha saudade do Brasil: misto de melancolia, reconhecimento e orgulho da minha brasilidade.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Eu, paparazzi!


Atribui-se a Federico Fellini, um dos maiores cineastas italianos de toda a curta mas intensa história do cinema, a invenção do termo paparazzi para denominar os fotógrafos que perseguiam obcecadamente os artistas no tempo áureo do cinema italiano. Bem, Fellini já morreu e seus filmes permanecem, e além deles, claro, o termo paparazzi. Hoje dei uma de paparazzi e flagrei um casal de chineses que tirava fotos perto do Coliseu. Romântica a cena, para não dizer patética: ambos caminhavam ao redor do monumento vestidos com os respectivos trajes do casamento, um fotógrafo os enquadrava com a câmera – tendo sempre o Coliseu como fundo-, enquanto um diretor de cena dirigia a pose que deveriam fazer. Pois é, o limite entre sonho, ascensão social, cinema e realidade se misturou completamente na mente dos pombinhos enamorados e deu no que deu. Soube que essa é uma situação freqüente por aqui, muitos recém casados andam por Roma tirando fotos declaradamente montadas para depois se contemplarem no álbum de fotografia. Vejo dois diagnósticos. O primeiro deles é a cafonice própria da burguesia emergente, ou seja, a China é hoje uma das maiores economias mundiais e esse casal acredito que seja um exemplo da classe emergente do país, que em verdade não se difere das demais no mundo, vide no Brasil as personagens da revista Caras, por exemplo – um desejo de consumo exagerado e despropositado que existe nessa classe social que a impede de reconhecer-se como ridícula. Bem, como segundo diagnóstico no caso desses dois chineses existe o cinema italiano. Ele também responde por parte da culpa desse tipo de cena existir, visto que diversos cineastas romantizaram e imortalizaram nos seus filmes espaços, personagens e monumentos romanos: Rosselini, Vittorio de Sica, Fellini, Antonioni, Dino Risi, Monicelli, Pasolini, Ettore Scolla e tantos outros. Vir a Roma é certamente recordar-se das leituras históricas e da fé católica, mas é, antes de tudo, reviver cenas de filmes, sonhar com a câmera, sentir-se Vittorio Gasmann, Sofia Loren, Marcello Mastroiani, Anita Eckbert, é se tornar também personagem de ficção. Amanhã andarei com minha câmera de paparazzi pela Fontana di Trevi, quem sabe não encontro por lá mais uma dessas antológicas cenas cinematográficas made by China?

Neologismo à parmigiana


Hoje sem querer inventei uma palava: melincomico. E a italiana que me ouviu pronunciá-la achou graça como se eu tivesse feito poesia. Mah, quem me dera. O fato foi que na tentativa desajeitada de me comunicar queria dizer que o senhor ao nosso lado era “malinconico”, ou seja, melancólico, mas saiu melincomico e assim improvisadamente juntei melancólico com cômico – que também existe em italiano – e ganhei o título de poeta. Nesse arranjo todo quem saiu perdendo só foi mesmo o senhor que em sua nostalgia profunda no bosque da Villa Borghese, olhava fixamente uma fonte de água enquanto a italiana ao meu lado ria de sua comicidade recém batizada, que para mim, na verdade, sequer existia. Poverino!
Aqui cabe um comentário: Roberto Rosselini, o mestre do cinema neo-realista italiano, nasceu e viveu muito tempo na Villa Borghese. Uma vila de aristocráticos cujas mansões hoje são museus de arte e história. Rosselini era portanto de família nobre e muitas pessoas não sabem disso. Não sabem nem mesmo por aqui – essa informação trouxe comigo do Brasil.
Voltando ao neologismo: nomeei esse meu momento curioso de “instante errante romanesco ou a síndrome de Guimarães Rosa”

sábado, 5 de janeiro de 2008

Banalidades




Os clichès existem! Independente da censura pròpria do intelectual os chavòes sentimentais se exibem como expressòes de sentimentos imediatos, autònomos, integrais e nào deveriam ser causa de constrangimento para os eruditos. Talvez seja a universalidade das emoçòes humanas, e portanto, dos clichès, que constrange o letrado que de sopetào se vale do senso comum para se comunicar. A busca da originalidade e individualidade é que motiva o artista. Mas o fato é que fora da arte e da pesquisa de linguagem os clichés representam possìveis sìnteses e a imediatez necessàrias para a vida espontànea, de certo expressòes ingénuas e plenas de humanidade. E é quando os sentimos que entendemos o seu significado. Com tudo isso quis dizer que esta tarde passei pelo Coliseu - que estava com uma decoraçào diferenciada em razàao da època natalina - e entào me veio a sensaçào tìpica dos maus escritores quando estes dizem que tal situaçào lhes parece um sonho. Mas foi justamente isso que senti ao olhar pela primeira vez este monumento mìtico - gigante, imponente. Vivenciei tantos episòdios, rememorando pinturas, imagens, històrias dos antigos romanos, as lutas e espetàculos que aconteciam ali. Depois comi una vera pasta italiana: spaghetti all'arrabiata, ou seja, um macarrào com aquela velha e boa pimenta arretada! E neste instante ouço um cd que sequer sabia que existia: Vinìcius de Morais com Toquinho e Ornella Vanoni - uma legìtima bossa nova em italiano. Come mai è possibile? è bello da morrire! E o que fazer com esses tantos clichès que insistem em existir e constranger?

Io so che ti amerò
Per tutta la mia vita ti amerò
In ogni lontananzza ti amerò
E senza una speranza
Io so che ti amerò
Ed ogni mio pensiero
è per dire a te
Lo so che tI amerò
Per tutta la mia vita
Io so che piangerò
Ad ogni nuova assenza piangerò
Ma il tuo ritorno mi ripagherà
Nel male che l'assenza mi farà
Io so che soffrirò
La penna senza fine che mi dà
Il desiderio d'essere con te
Per tutta la mia vita

("Eu sei que vou te amar", S. Bardotti, V. de Moraes, A.C. Jobim, cantata da Ornella Vanoni e Vinìcius de Moraes)

Desculpas, sem desculpas

Bem, estou em falta com meu blog.
A correria e ansiedade às vésperas da minha viagem a Roma foram uma das causas.
Agora que jà estou na Itàlia encontro outras dificuldades, mas diretamente relacionadas ao formato dos arquivos salvos no meu computador e os disponiveis aqui no internet point (ainda nao tenho internet em casa). Ou seja, assim que resolver questo piccollo problema, postarei meus textos com mais frequencia! Sem desculpas.
E claro, nào reparem nos acentos improvisados do teclado italiano.